É necessária uma colaboração mais estreita entre quem exerce a autoridade pública, designadamente as polícias e quem gere espaços onde existem potenciais conflitos.
A indústria do lazer tem-se afirmado como uma das grandes indústrias das sociedades contemporâneas.
Os grandes espectáculos desportivos e os espaços de diversão nocturna, como bares ou discotecas, movimentam centenas de milhares de pessoas durante um único fim-de-semana.
Em momento recente vimos conflitos em estádios de futebol e seguranças de uma discoteca a pontapear uma pessoa que se encontrava no chão.
A generalidade das pessoas que se desloca a um jogo de futebol ou a uma discoteca não o faz com a intenção de arranjar problemas ou ser agredida.
Se o clima de violência se instala no futebol, tal circunstância irá afastar as famílias, as crianças e os mais idosos e vulneráveis, com prejuízo para os clubes e para o próprio espectáculo.
Em Inglaterra, a escalada de violência que ocorreu nos estádios de futebol levou a que fossem tomadas medidas drásticas, sob pena de se comprometer toda a indústria.
Os promotores dos jogos sentiram a necessidade de erradicar a violência e, quando o conseguiram, o futebol inglês progrediu de forma notável.
Em Portugal é preciso igualmente que os proprietários dos estabelecimentos de diversão nocturna percebam que certo tipo de actuação dos seguranças não é boa para o negócio e alterem procedimentos.
O perfil de actuação de quem devia garantir a segurança do estabelecimento não é muitas vezes a mais correcta.
Algumas das situações de desacatos no interior de discotecas são causadas por quem deveria zelar para que houvesse um clima propício a uma diversão pacífica.
Em certos casos, o submundo da segurança nocturna tem características próprias de uma organização mafiosa.
Há grupos de pessoas que assumem o controlo de estabelecimentos e exigem pagamentos aos seus proprietários, à margem de qualquer actuação legal, como já se constatou em alguns processos que foram julgados.
É bom recordar que o início da Mafia americana assentou na prestação de alegados serviços de protecção aos comerciantes.
Entre nós, alguns processos célebres tiveram como motivação o conflito entre grupos rivais ligados ao controlo do território nocturno, com ligações aos negócios da segurança privada.
Os dinamizadores do negócio da diversão nocturna têm de ser parte da solução e não fazer parte do problema.
É necessária uma colaboração mais estreita entre quem exerce a autoridade pública, designadamente as polícias e quem gere espaços onde existem potenciais conflitos.
As discotecas não podem ser zonas livres de direito onde impera a lei do mais forte.
No futebol os agentes desportivos perceberam essa realidade, é bom que outros sectores de diversão também o entendam, sob pena de sofrerem as consequências.
por, António Ventinhas
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SABADO.PT – 08-11-2017