No Domingo passado o Papa Francisco assinalou o dia mundial dos pobres com uma refeição simbólica em que participaram cerca de 1500 pessoas carenciadas.

O combate à pobreza é uma das prioridades deste pontificado, o que se tem traduzido em medidas concretas e na definição de um novo caminho para a Igreja Católica.

A vivência do Papa na assistência aos mais pobres na periferia de Buenos Aires permitiu criar-lhe uma especial sensibilidade para tentar erradicar este problema.

O mesmo tem apelado a que os membros do clero e crentes vão para a periferia, em auxílio dos mais pobres e marginalizados da sociedade.

A pobreza voltou a ser colocada na agenda mediática quando muitas vezes ficou esquecida.

Segundo as estatísticas, em Portugal cerca de um quarto da população é pobre ou encontra-se em risco de pobreza.

Não é só na periferia das grandes cidades de África ou da América do Sul que existem fenómenos extremos de pobreza.

Nos arredores de Lisboa existem bairros de barracas com condições similares.

O plano de erradicação das barracas começou em Lisboa nos anos 80 e teve bons resultados, mas a situação é muito diferente na periferia.

As condições de quem vive em aglomerados populacionais como o Bairro da Torre, situado junto ao Aeroporto Internacional de Lisboa, na fronteira com o concelho de Lisboa, não são aceitáveis num país que pertence à União Europeia, uma vez que há favelas na América do Sul ou musseques em África onde a qualidade habitacional é melhor.

Para além disso, nos subúrbios da capital europeia que está na moda, existem vários concelhos com dezenas ou centenas de bairros clandestinos.

Há freguesias da periferia de Lisboa compostas maioritariamente por bairros deste género, realidade que perdura há décadas.

Neste tipo de aglomerados as infra-estruturas são deficientes e o caos urbanístico é evidente.

Este tipo de condições facilita a delinquência juvenil.

O combate à criminalidade tem de ser encarado de forma integrada e não apenas focar-se na vertente punitiva.

Só com uma intervenção de fundo na periferia das grandes cidades é possível diminuir estruturalmente a criminalidade mais grave e garantir uma vida digna a muitas dezenas de milhares de pessoas.

Em muitas zonas não existem equipamentos que assegurem ocupação aos jovens que, assim, se encontram entregues a si próprios, enquanto os pais trabalham de manhã à noite para sustentar a família.

Os bairros “problemáticos” são bem conhecidos de quem trabalha nos tribunais, por darem origem a muitos processos de natureza criminal.

É preciso um novo olhar e intervenção do Estado para resolver os casos de exclusão, o que não se resolve só com a atribuição de subsídios, mas implica necessariamente o envolvimento da comunidade.

O grande plano de combate à criminalidade em Nova Iorque assentou precisamente nesta premissa e conseguiu reduzir a taxa de homicídios em 90% em poucos anos, tornando-se um caso de estudo a nível mundial.

A colaboração entre as autarquias e o Estado é absolutamente crucial para a resolução dos problemas dos subúrbios das grandes cidades, mas em primeiro lugar é necessário que a sociedade sinta que este é um problema prioritário.

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