Imprensa

O berbicacho Astrazeneca… e o berbicacho Sócrates

Bom dia,

Este é o seu Expresso Curto desta quarta-feira, 7 de abril. Entre hoje e amanhã deve perceber-se a dimensão exata do ‘berbicacho’ (cito palavras do nosso primeiro-ministro) que volta a envolver a vacina da Astrazeneca contra a Covid-19.

E faltam pouco mais de 48 horas para aquele que deve ser um dos momentos do ano. Às 14.00 desta sexta-feira o juiz Ivo Rosa, que liderou a instrução do processo judicial Operação Marquês, a maior investigação de corrupção do Portugal democrático, vai proferir a decisão instrutória: ou seja, vai dizer se José Sócrates e as quase três dezenas de arguidos vão ou não a julgamento pelos crimes de que são acusados.

Não é preciso consultar o instituto de meteorologia para dizer: isto vai aquecer.

Venha daí comigo

Em matéria de vacinas, comecemos pelo início. Em Portugal, já levaram pelo menos uma toma da vacina 1,3 milhões de pessoas. Ou seja, 13 por cento dos portugueses já têm pelo menos parte da vacina (a primeira toma) administrada. Se preferir, 87 por cento dos portugueses ainda não tomaram qualquer vacina contra a Covid-19. Uma questão de perspetiva.

O nosso processo de vacinação está ancorado em boa medida na vacina da Astrazeneca. Aliás, em todo o planeta esta era vista como a vacina salvadora: não precisava de temperaturas tão baixas para ser armazenada; custa cinco vezes menos que outras vacinas disponíveis; iam ser distribuídas 3 mil milhões de doses este ano, incluíndo para países menos desenvolvidos.

Bem, isto era o que pensávamos que ia ser. A realidade tem sido outra. Se bem está recordado, a vacina da Astrazeneca tem estado envolvida numa série de peripécias e polémicas. As notícias sobre o surgimento de complicações em pessoas que tomaram a vacina levaram há semanas vários países a suspender a administração desta vacinas.

Recorde-se que num universo de 18 milhões de doses administradas, houve 30 casos de formação de coágulos em pessoas que tomaram a vacina da Astra Zeneca. Sete morreram.

Mas os organismos responsáveis garantiram que a vacina era segura e que o programa de vacinação deveria prosseguir, até porque os benefícios superavam claramente os riscos. E a vacinação foi retomada nos países em que tinha sido interrompida.

Ora, se pensávamos que o problema já estava resolvido, não está.

Ontem de manhã um alto responsável da EMA, a agência europeia do medicamento, veio dizer que estava confirmada a ligação entre a toma da vacina da Astrazeneca e os casos registados de tromboses. Numa entrevista ao jornal italiano ‘Il Messaggero’, o responsável pela estratégia de vacinação da EMA, Marco Cavaleri, confirmou a existência de uma relação entre a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca e a ocorrência de coágulos de sangue raros em pessoas vacinadas.

O alarme foi imediato, até porque as declarações, numa entrevista a um jornal italiano, não tinham mais explicações. Só para dar um exemplo, por cá António Costa admitia pouco depois que poderíamos estar na presença de novo ‘berbicacho’ a complicar um processo de vacinação nos países europeus que tem estado cheio de tropeções.

A meio da tarde, a mesma EMA veio corrigir as declarações do seu responsável. Dizendo que afinal o tal nexo causal entre a vacina e uma rara formação de coágulos sanguíneos não está provada.

As conclusões do comité de segurança deverão ser conhecidas hoje ou amanhã, quinta-feira.

Pergunto-me se o mal não está feito, depois de todas as dúvidas levantadas nos últimos tempos.

E agora que tanto falamos de vacinas, há mais uma francesa, da Valneva, cujos resultados iniciais parecem muito promissores.

Nesta altura, já podemos concluir que a maioria dos países da União Europeia (UE) não conseguiu cumprir a meta de ter pelo menos 80 por cento dos idosos (com 80 anos ou mais) e 80 por cento dos profissionais de saúde vacinados contra a covid-19 até ao final de março. Portugal, no entanto, conseguiu cumprir já uma das metas: 84,3 por cento da população com mais de 80 anos já recebeu a primeira dose da vacina.

O Governo português estima que os profissionais de saúde considerados prioritários estejam todos vacinados até ao dia 11 de abril, o que representa que o país cumprirá entretanto as duas metas intercalares definidas pela Comissão Europeia.

No outro espectro está a Bulgária, o país que ocupa a pior posição: apenas cinco por cento dos maiores de 80 anos já foram vacinados e apenas 17,6 por cento dos médicos e enfermeiros búlgaros receberam a primeira dose da vacina.

Com cerca de 107 milhões de doses já distribuídas e mais 360 milhões programadas para serem entregues durante este trimestre, a UE mantém a esperança de ter toda a população adulta imunizada até 21 de setembro.

Os problemas com as vacinas da Astrazeneca não são apenas à volta das dúvidas sobre a sua eficácia e segurança. São também relacionados com a sua produção. Ontem, a União Europeia veio negar ter bloqueado a exportação de um lote de três milhões de vacinas da companhia para a Austrália (que também está com a vacinação atrasada).

Entretanto, e à medida que vão sendo dados passos no sentido da concretização do chamado ‘passaporte de vacinação’, os organismos europeus de protecção de dados alertam para a necessidade de serem protegidos os dados e informações pessoais dos cidadãos.

OPERAÇÃO MARQUÊS

Na Comissão Política, o podcast de política do Expresso, o tema Operação Marquês é o prato forte desta semana. Vale a pena ouvir.

Já na última edição do Expresso semanário tinhamos dado grande destaque ao tema, com este texto questionando o impacto que a decisão do processo poderá ter na justiça e na política. E também este, que olha para o processo e tenta antever o que se poderá passar, nomeadamente se a acusação de corrupção a José Sócrates não for confirmada. E ainda este, dando conta de como o despacho de Ivo Rosa já ultrapassa as seis mil páginas (e as últimas informações apontam para uma leitura das conclusões que poderá levar duas horas).

Na sua edição desta qurta-feira, o Público dá destaque a um trabalho em que se afirma que em Portugal os nomes de Sócrates e Ricardo Salgado são figuras centrais no imaginário sempre que se fala de corrupção.

Para sexta-feira, quando for conhecida a decisão instrutória, estamos a preparar no seu Expresso digital um grande trabalho envolvendo os nossos jornalistas e colunistas, de forma a levar até si a melhor informação e opinião sobre o tema. Vá estando atento.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro

Já aqui falámos sobre José Sócrates, a propósito da Operação Marquês. Mas o nome do antigo primeiro-ministro é também lembrado quando se assinalaram os dez anos do pedido de resgate de Portugal, na sequência da crise das dívidas soberanas. Lembra-se? Lembramo-nos todos, seguramente.

Na Madeira, prepara-se a utilização de cães farejadores para detectar a chegada de passageiros ao aeroporto de infectados com a Covid-19.

O BE acusa o Estado de estar a colocar dinheiro a mais no Novo Banco. No Parlamento, prosseguem as audições da comissão de inquérito às perdas do Novo Banco, tendo sido ouvido um antigo responsável de risco do Banco Espírito Santo.

Na preparação das Autárquicas, o partido de Rio prepara o apoio a nomes polémicos, como o de Suzana Garcia para a Amadora, e o de Isaltino Morais em Oeiras.

O concurso para novas concessões de distribuição de eletricidade derrapa.

Na Ciência, temos o nosso colega Vírgilio Azevedo a escrever sobre como grandes lentes desenhadas por astrofísicos portugueses vão ser enviadas para o mega observatório situado no Chile.

Lá fora

Os números da pandemia no planeta voltam a subir e para números alarmantes que fazem pensar em nova vaga da doença à escala global.

Como é que a China conta convencer 650 milhões de pessoas a serem vacinadas contra a Covid? Oferecendo-lhes um gelado…

A pandemia piorou tudo e “as ratazanas continuam a morder crianças durante a noite” em Portugal: o relatório da Amnistia Internacional

Benjamin Netanyahu designado para formar Governo em Israel

A polícia holandesa já deteve o suspeito do roubo de um quadro de Van Gogh… mas a pintura do holandês continua desaparecida.

Foi morto pela polícia o médico da Marinha norte-americana que disparou sobre duas pessoas.

Opositor russo Navalny prossegue greve de fome apesar de doença respiratória

50 anos da morte de Stravinsky: a vida de um compositor russo e universal revisitada através da sua obra

TRIBUNA

Esta quarta-feira, o FC Porto defronta o Chelsea para a primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões. Os portistas jogam em casa, mas casa neste caso significa Sevilha (onde os portistas já festejaram uma conquista europeia).

Aqui pode ficar a saber mais sobre Tuchel e o seu projeto para o clube londrino.

Na última noite, o Real Madrid bateu o Liverpool e o Manchester City derrotou o Borussia de Dortmund.

Fora da Champions, em Espanha continua a dar polémica um alegado insulto racista a um jogador do Valência.

Luís Filipe Vieira era suspeito de branqueamento de capitais e de burla qualificada. Mas o processo acabou arquivado.

FRASES

(Nos últimos dias, aqui no Expresso, anda uma polémica assanhada sobre se os comunistas comiam criancinhas… Como gosto muito de polémicas em jornais e como gosto de ler gente culta a escrever em jornais e como gosto de História, deixo-lhe vários links sobre esta acesa troca de palavras que mete Francisco Louçã e Henrique Monteiro, com Daniel Oliveira pelo meio. Não são frases, são artigos, mas valem uma leitura)

Tudo começou na semana passada, pela pena de Henrique Monteiro, criticando um comentário de Louçã na SIC Notícias: “Académico, conselheiro de Estado, conselheiro do Banco de Portugal… de que serve tudo isto? Para desmentir a História e atacar uma deputada municipal, com ano e meio de atraso? Para deturpar o que foi dito, numa desonestidade intelectual que dói?”

Depois, Francisco Louçã respondeu-lhe. “Bem sei que Henrique Monteiro quer fugir da questão como o pistoleiro que sai aos tiros do saloon para fingir que não esteve lá. Tem um problema: é que a tal frase, “os comunistas comem crianças”, é uma afirmação factual e Monteiro, que foi jornalista, sabe que esta só pode ser ou verdade ou mentira”.

E Também Daniel Oliveira decidiu opiniar sobre o assunto. “Espanta-me que Louçã, que se fez trotsquista por reação aos crimes de Estaline, não tenha percebido a gravidade de fazer uma piada com o seu maior crime. E que haja quem acredite que um trotsquista pode ser negacionista dos crimes do estalinismo”

Já esta quarta-feira, Henrique volta ao tema: “O síndroma da loucura política (e uma resposta à desonestidade de Louçã)”

O QUE ANDO A LER

Já passou algum tempo desde que aqui estive para um Expresso Curto. Dessa forma, por mim já viajaram vários livros, que agora aproveito para lhe sugerir.

De Kazuo Ishiguro, recém Prémio Nobel, ainda nada tinha lido. Mas a história deste último “Klara e o Sol”, com o cenário futurista de robots e inteligência artificial e dos seus limites, chamou-me a atenção. Conseguirá um dia uma máquina replicar o que há de único na natureza humana? Aqui pode ler a recensão do livro.

O último de Arturo Perez Reverte. “Cães Maus Não Dançam”.

A narrativa é surpreendente, dado que o livro é contado por um narrador que é… um cão. Isso mesmo, um cão que foi uma espécie de máquina de guerra, envolvido em lutas ilegais, e que agora goza uma merecida reforma.

No Expresso, entrevistámo-lo recentemente e falámos sobre este livro com o escritor espanhol:

“Amo muito os cães. Sempre tive um ou vários, pelo menos desde que, há 30 anos, a minha vida estabilizou e passei a ter uma casa — antes era um vagabundo, um nómada. Neste momento, tenho quatro cães, dois da minha filha. O cão tem virtudes que gostaria de ver nos seres humanos. A vida endureceu-me em muitos aspetos, mas continuo a sofrer com o sofrimento de um cão. Indigna-me. Digo-lhe mais: mataria por muito poucas coisas, mas mataria quem fizesse mal a um cão. Sem qualquer remorso, com as minhas próprias mãos.”

Duas notas ainda para “Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente”, de João Céu e Silva, que numa longa entrevista (na verdade, dezenas delas feitas ao longo dos últimos anos) a Vasco Pulido Valente, um dos melhores colunistas e maiores polemistas nacionais das últimas décadas, traça um perfil do historiador falecido no ano passado, mas também um percurso histórico de Portugal desde o século XIX.

E, também de um jornalista, e sobre corrupção, “45 Anos de Combate à Corrupção”, de Luís Rosa, nosso colega do Observador. Um livro muito oportuno numa altura em que tanto se fala do tema.

Antes de me despedir, apenas quero lembrar que com a edição do Expresso semanal desta semana, que está nas bancas na sexta-feira, será distribuído gratuitamente um clássico do nosso jornal. O MAPA DE ESTRADAS, naturalmente devidamente atualizado. E dentro de duas semanas, a 23, será a vez de poder voltar a contar com um Expressinho, para os leitores mais novos.

Tenha um excelente dia. Com mais ou menos esplanadas mas sempre com cuidado e protegido.

Boas leituras

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O berbicacho Astrazeneca… e o berbicacho Sócrates

Bom dia,

Este é o seu Expresso Curto desta quarta-feira, 7 de abril. Entre hoje e amanhã deve perceber-se a dimensão exata do ‘berbicacho’ (cito palavras do nosso primeiro-ministro) que volta a envolver a vacina da Astrazeneca contra a Covid-19.

E faltam pouco mais de 48 horas para aquele que deve ser um dos momentos do ano. Às 14.00 desta sexta-feira o juiz Ivo Rosa, que liderou a instrução do processo judicial Operação Marquês, a maior investigação de corrupção do Portugal democrático, vai proferir a decisão instrutória: ou seja, vai dizer se José Sócrates e as quase três dezenas de arguidos vão ou não a julgamento pelos crimes de que são acusados.

Não é preciso consultar o instituto de meteorologia para dizer: isto vai aquecer.

Venha daí comigo

Em matéria de vacinas, comecemos pelo início. Em Portugal, já levaram pelo menos uma toma da vacina 1,3 milhões de pessoas. Ou seja, 13 por cento dos portugueses já têm pelo menos parte da vacina (a primeira toma) administrada. Se preferir, 87 por cento dos portugueses ainda não tomaram qualquer vacina contra a Covid-19. Uma questão de perspetiva.

O nosso processo de vacinação está ancorado em boa medida na vacina da Astrazeneca. Aliás, em todo o planeta esta era vista como a vacina salvadora: não precisava de temperaturas tão baixas para ser armazenada; custa cinco vezes menos que outras vacinas disponíveis; iam ser distribuídas 3 mil milhões de doses este ano, incluíndo para países menos desenvolvidos.

Bem, isto era o que pensávamos que ia ser. A realidade tem sido outra. Se bem está recordado, a vacina da Astrazeneca tem estado envolvida numa série de peripécias e polémicas. As notícias sobre o surgimento de complicações em pessoas que tomaram a vacina levaram há semanas vários países a suspender a administração desta vacinas.

Recorde-se que num universo de 18 milhões de doses administradas, houve 30 casos de formação de coágulos em pessoas que tomaram a vacina da Astra Zeneca. Sete morreram.

Mas os organismos responsáveis garantiram que a vacina era segura e que o programa de vacinação deveria prosseguir, até porque os benefícios superavam claramente os riscos. E a vacinação foi retomada nos países em que tinha sido interrompida.

Ora, se pensávamos que o problema já estava resolvido, não está.

Ontem de manhã um alto responsável da EMA, a agência europeia do medicamento, veio dizer que estava confirmada a ligação entre a toma da vacina da Astrazeneca e os casos registados de tromboses. Numa entrevista ao jornal italiano ‘Il Messaggero’, o responsável pela estratégia de vacinação da EMA, Marco Cavaleri, confirmou a existência de uma relação entre a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca e a ocorrência de coágulos de sangue raros em pessoas vacinadas.

O alarme foi imediato, até porque as declarações, numa entrevista a um jornal italiano, não tinham mais explicações. Só para dar um exemplo, por cá António Costa admitia pouco depois que poderíamos estar na presença de novo ‘berbicacho’ a complicar um processo de vacinação nos países europeus que tem estado cheio de tropeções.

A meio da tarde, a mesma EMA veio corrigir as declarações do seu responsável. Dizendo que afinal o tal nexo causal entre a vacina e uma rara formação de coágulos sanguíneos não está provada.

As conclusões do comité de segurança deverão ser conhecidas hoje ou amanhã, quinta-feira.

Pergunto-me se o mal não está feito, depois de todas as dúvidas levantadas nos últimos tempos.

E agora que tanto falamos de vacinas, há mais uma francesa, da Valneva, cujos resultados iniciais parecem muito promissores.

Nesta altura, já podemos concluir que a maioria dos países da União Europeia (UE) não conseguiu cumprir a meta de ter pelo menos 80 por cento dos idosos (com 80 anos ou mais) e 80 por cento dos profissionais de saúde vacinados contra a covid-19 até ao final de março. Portugal, no entanto, conseguiu cumprir já uma das metas: 84,3 por cento da população com mais de 80 anos já recebeu a primeira dose da vacina.

O Governo português estima que os profissionais de saúde considerados prioritários estejam todos vacinados até ao dia 11 de abril, o que representa que o país cumprirá entretanto as duas metas intercalares definidas pela Comissão Europeia.

No outro espectro está a Bulgária, o país que ocupa a pior posição: apenas cinco por cento dos maiores de 80 anos já foram vacinados e apenas 17,6 por cento dos médicos e enfermeiros búlgaros receberam a primeira dose da vacina.

Com cerca de 107 milhões de doses já distribuídas e mais 360 milhões programadas para serem entregues durante este trimestre, a UE mantém a esperança de ter toda a população adulta imunizada até 21 de setembro.

Os problemas com as vacinas da Astrazeneca não são apenas à volta das dúvidas sobre a sua eficácia e segurança. São também relacionados com a sua produção. Ontem, a União Europeia veio negar ter bloqueado a exportação de um lote de três milhões de vacinas da companhia para a Austrália (que também está com a vacinação atrasada).

Entretanto, e à medida que vão sendo dados passos no sentido da concretização do chamado ‘passaporte de vacinação’, os organismos europeus de protecção de dados alertam para a necessidade de serem protegidos os dados e informações pessoais dos cidadãos.

OPERAÇÃO MARQUÊS

Na Comissão Política, o podcast de política do Expresso, o tema Operação Marquês é o prato forte desta semana. Vale a pena ouvir.

Já na última edição do Expresso semanário tinhamos dado grande destaque ao tema, com este texto questionando o impacto que a decisão do processo poderá ter na justiça e na política. E também este, que olha para o processo e tenta antever o que se poderá passar, nomeadamente se a acusação de corrupção a José Sócrates não for confirmada. E ainda este, dando conta de como o despacho de Ivo Rosa já ultrapassa as seis mil páginas (e as últimas informações apontam para uma leitura das conclusões que poderá levar duas horas).

Na sua edição desta qurta-feira, o Público dá destaque a um trabalho em que se afirma que em Portugal os nomes de Sócrates e Ricardo Salgado são figuras centrais no imaginário sempre que se fala de corrupção.

Para sexta-feira, quando for conhecida a decisão instrutória, estamos a preparar no seu Expresso digital um grande trabalho envolvendo os nossos jornalistas e colunistas, de forma a levar até si a melhor informação e opinião sobre o tema. Vá estando atento.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro

Já aqui falámos sobre José Sócrates, a propósito da Operação Marquês. Mas o nome do antigo primeiro-ministro é também lembrado quando se assinalaram os dez anos do pedido de resgate de Portugal, na sequência da crise das dívidas soberanas. Lembra-se? Lembramo-nos todos, seguramente.

Na Madeira, prepara-se a utilização de cães farejadores para detectar a chegada de passageiros ao aeroporto de infectados com a Covid-19.

O BE acusa o Estado de estar a colocar dinheiro a mais no Novo Banco. No Parlamento, prosseguem as audições da comissão de inquérito às perdas do Novo Banco, tendo sido ouvido um antigo responsável de risco do Banco Espírito Santo.

Na preparação das Autárquicas, o partido de Rio prepara o apoio a nomes polémicos, como o de Suzana Garcia para a Amadora, e o de Isaltino Morais em Oeiras.

O concurso para novas concessões de distribuição de eletricidade derrapa.

Na Ciência, temos o nosso colega Vírgilio Azevedo a escrever sobre como grandes lentes desenhadas por astrofísicos portugueses vão ser enviadas para o mega observatório situado no Chile.

Lá fora

Os números da pandemia no planeta voltam a subir e para números alarmantes que fazem pensar em nova vaga da doença à escala global.

Como é que a China conta convencer 650 milhões de pessoas a serem vacinadas contra a Covid? Oferecendo-lhes um gelado…

A pandemia piorou tudo e “as ratazanas continuam a morder crianças durante a noite” em Portugal: o relatório da Amnistia Internacional

Benjamin Netanyahu designado para formar Governo em Israel

A polícia holandesa já deteve o suspeito do roubo de um quadro de Van Gogh… mas a pintura do holandês continua desaparecida.

Foi morto pela polícia o médico da Marinha norte-americana que disparou sobre duas pessoas.

Opositor russo Navalny prossegue greve de fome apesar de doença respiratória

50 anos da morte de Stravinsky: a vida de um compositor russo e universal revisitada através da sua obra

TRIBUNA

Esta quarta-feira, o FC Porto defronta o Chelsea para a primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões. Os portistas jogam em casa, mas casa neste caso significa Sevilha (onde os portistas já festejaram uma conquista europeia).

Aqui pode ficar a saber mais sobre Tuchel e o seu projeto para o clube londrino.

Na última noite, o Real Madrid bateu o Liverpool e o Manchester City derrotou o Borussia de Dortmund.

Fora da Champions, em Espanha continua a dar polémica um alegado insulto racista a um jogador do Valência.

Luís Filipe Vieira era suspeito de branqueamento de capitais e de burla qualificada. Mas o processo acabou arquivado.

FRASES

(Nos últimos dias, aqui no Expresso, anda uma polémica assanhada sobre se os comunistas comiam criancinhas… Como gosto muito de polémicas em jornais e como gosto de ler gente culta a escrever em jornais e como gosto de História, deixo-lhe vários links sobre esta acesa troca de palavras que mete Francisco Louçã e Henrique Monteiro, com Daniel Oliveira pelo meio. Não são frases, são artigos, mas valem uma leitura)

Tudo começou na semana passada, pela pena de Henrique Monteiro, criticando um comentário de Louçã na SIC Notícias: “Académico, conselheiro de Estado, conselheiro do Banco de Portugal… de que serve tudo isto? Para desmentir a História e atacar uma deputada municipal, com ano e meio de atraso? Para deturpar o que foi dito, numa desonestidade intelectual que dói?”

Depois, Francisco Louçã respondeu-lhe. “Bem sei que Henrique Monteiro quer fugir da questão como o pistoleiro que sai aos tiros do saloon para fingir que não esteve lá. Tem um problema: é que a tal frase, “os comunistas comem crianças”, é uma afirmação factual e Monteiro, que foi jornalista, sabe que esta só pode ser ou verdade ou mentira”.

E Também Daniel Oliveira decidiu opiniar sobre o assunto. “Espanta-me que Louçã, que se fez trotsquista por reação aos crimes de Estaline, não tenha percebido a gravidade de fazer uma piada com o seu maior crime. E que haja quem acredite que um trotsquista pode ser negacionista dos crimes do estalinismo”

Já esta quarta-feira, Henrique volta ao tema: “O síndroma da loucura política (e uma resposta à desonestidade de Louçã)”

O QUE ANDO A LER

Já passou algum tempo desde que aqui estive para um Expresso Curto. Dessa forma, por mim já viajaram vários livros, que agora aproveito para lhe sugerir.

De Kazuo Ishiguro, recém Prémio Nobel, ainda nada tinha lido. Mas a história deste último “Klara e o Sol”, com o cenário futurista de robots e inteligência artificial e dos seus limites, chamou-me a atenção. Conseguirá um dia uma máquina replicar o que há de único na natureza humana? Aqui pode ler a recensão do livro.

O último de Arturo Perez Reverte. “Cães Maus Não Dançam”.

A narrativa é surpreendente, dado que o livro é contado por um narrador que é… um cão. Isso mesmo, um cão que foi uma espécie de máquina de guerra, envolvido em lutas ilegais, e que agora goza uma merecida reforma.

No Expresso, entrevistámo-lo recentemente e falámos sobre este livro com o escritor espanhol:

“Amo muito os cães. Sempre tive um ou vários, pelo menos desde que, há 30 anos, a minha vida estabilizou e passei a ter uma casa — antes era um vagabundo, um nómada. Neste momento, tenho quatro cães, dois da minha filha. O cão tem virtudes que gostaria de ver nos seres humanos. A vida endureceu-me em muitos aspetos, mas continuo a sofrer com o sofrimento de um cão. Indigna-me. Digo-lhe mais: mataria por muito poucas coisas, mas mataria quem fizesse mal a um cão. Sem qualquer remorso, com as minhas próprias mãos.”

Duas notas ainda para “Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente”, de João Céu e Silva, que numa longa entrevista (na verdade, dezenas delas feitas ao longo dos últimos anos) a Vasco Pulido Valente, um dos melhores colunistas e maiores polemistas nacionais das últimas décadas, traça um perfil do historiador falecido no ano passado, mas também um percurso histórico de Portugal desde o século XIX.

E, também de um jornalista, e sobre corrupção, “45 Anos de Combate à Corrupção”, de Luís Rosa, nosso colega do Observador. Um livro muito oportuno numa altura em que tanto se fala do tema.

Antes de me despedir, apenas quero lembrar que com a edição do Expresso semanal desta semana, que está nas bancas na sexta-feira, será distribuído gratuitamente um clássico do nosso jornal. O MAPA DE ESTRADAS, naturalmente devidamente atualizado. E dentro de duas semanas, a 23, será a vez de poder voltar a contar com um Expressinho, para os leitores mais novos.

Tenha um excelente dia. Com mais ou menos esplanadas mas sempre com cuidado e protegido.

Boas leituras

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