Queixa do vereador do PCP deu origem a investigação da PJ. Tribunal de Contas questiona negócio
Pinto Luz alvo de quatro denúncias
HUGO FRANCO e RUI GUSTAVO
Suspeitas Foi uma queixa do vereador do PCP na Câmara de Cascais que deu origem à investigação. Tribunal de Contas questiona negócios da autarquia com empresária chinesa durante a pandemia
ma denúncia enviada ao Ministério Público há quatro anos pelo então vereador do PCP na Câmara de Cascais, Clemente Alves, veio dar origem à investigação judicial que culminou nas buscas da PJ esta quarta-feira em Cascais e na sede do PSD. Em 2020, 0 vereador alertou os procuradores para a campanha de Miguel Pinto Luz à liderança do PSD, realizada no ano anterior, “a coberto” do contrato de 74.990 celebrado entre a agência de comunicação Next-Power e a empresa municipal Cascais Próxima, a mesma que fez negócios com a fábrica das máscaras para a covid-19,0 outro dossier que motivou esta operação policial.
Clemente Alves pretendia que a Justiça averiguasse “se foram efetivamente prestados serviços pela Nextpower à Cascais Próxima”; “se existe algum pagamento de serviços feito diretamente por Miguel Pinto Luz à Nextpower para a sua campanha eleitoral” ou “se elementos da Nextpower realizaram alguns serviços em instalações camarárias, utilizaram pessoal camarário ou quaisquer outros meios para a realização de ações da campanha eleitoral” do então vice-presidente da autarquia de Cascais e atual ministro da Habitação e das Infraestruturas.
Ao Expresso, Clemente Alves revela que enviou outras três denúncias de negócios imobiliários realizados pelo município envolvendo direta ou indiretamente Pinto Luz. Duas delas no período da pandemia, sobre contratos sem concurso relacionados com 0 fornecimento de equipamentos para a covid-19 e de “valores que não foram normais”. Já uma terceira queixa incidiu sobre um projeto urbanístico em Carcavelos situado numa reserva ecológica nacional. “O terreno foi vendido por um preço de favor”, acusa. Mas até ao momento não se conhecem diligências do MP em relação a estas outras três queixas.
O gabinete do ministro remeteu 0 Expresso para as declarações que Pinto Luz deu em 2020 a uma notícia do Expresso sobre as ligações suspeitas do então número dois da autarquia de Cascais à Nextpower. Na altura, desmentiu as acusações e garantiu que pagou todas as despesas de campanha do próprio bolso e através de donativos de outros militantes. Um dia depois das buscas, Pinto Luz veio a público declarar-se “completamente tranquilo” pedindo que se deixe a “justiça funcionar” porque 0 “escrutínio é saudável”.
Segundo 0 MP, estão em causa crimes de recebimento indevido de vantagem, corrupção passiva e ativa, prevaricação, participação económica em negócio e abuso de poderes.
Máscaras por máquinas
Um relatório do Tribunal de Contas de junho de 2022 considera que há suspeitas da prática dos crimes de gestão danosa e prevaricação naquela autarquia. Não refere quem é 0 visado, mas 0 presidente da Câmara, Carlos Carreiras, já assumiu a responsabilidade pelo negócio imobiliário que a auditora considera não ter “racional económico” e ter sido feito para beneficiar uma empresa imobiliária constituída dias antes dos factos agora sob investigação da PJ.
Para 0 TdC, a compra e venda que a Câmara fez de dois armazéns e um prédio rústico num negócio de 1,750 milhões não tem “racionalidade económica” e pode mesmo ter sido criminoso. Que negócio é esse? Em maio de 2020, a Câmara comprou duas máquinas para fazer máscaras para distribuir gratuitamente pela população. Na altura, Pinto Luz deu a cara pela iniciativa, mas Carreiras já assumiu que conduziu as negociações.
A Câmara comprou dois armazéns e um prédio rústico para instalar a fábrica e fez um acordo com a Shinningjoy, uma firma gerida por uma empresária chinesa que foi constituída um mês antes do negócio e no mesmo dia em que 0 Governo anunciou uma proposta de lei para ajudar as autarquias no combate à covid-19. A Câmara, através da empresa municipal Cascais Próxima, fez um acordo com a empresa, que instalou mais máquinas na fábrica.
Em maio de 2022, a autarquia vendeu 0 espaço a preço de custo e aceitou 800 mil euros em máscaras pelo material. Valores que deixaram “perplexa” a auditora: cada máscara ficou a 14 cêntimos, valor “muito acima do mercado” em 2021, e 0 Infarmed acabou por mandar retirar as máscaras porque “não cumpriam os critérios de segurança”.
“O acordo foi prejudicial para a Câmara de Cascais”, entende 0 TdC. Porque não teve em conta a “valorização imobiliária” e foi feito sem consulta prévia do mercado. Na resposta ao TdC, a Câmara alegou que a empresa chinesa criou 30 postos de trabalho e isso foi tido em conta no negócio. O tribunal suspeita que a cedência a “preço baixo” dos armazéns foi 0 objetivo de todo 0 acordo e considera fundamental saber a data do mesmo. Na mesma resposta, a Câmara diz que não há registos documentais do acordo.
João Ruivo, porta-voz da Assembleia Municipal de Cascais e ex-vereador do PS, deixa um alerta: “O negócio lesou 0 erário público.”
hfranco@expresso.impresa.pt
EM CAUSA ESTÃO NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS QUE ENVOLVEM DIRETA OU INDIRETAMENTE 0 AGORA MINISTRO
5Í Z) cT Z) O 0 z O o I— o